Arcades Vetoriais Coloridos: Nascem os Monstros
O cenário: início da gloriosa década de 80. A Era de Bronze dos Arcades, quando apareceram os primeiros jogos em preto e branco, acabou. Estamos no início da Era de Ouro dos Videogames, caracterizada pela segunda geração de jogos e pelo domínio da empresa Atari, tanto no mercado profissional quanto no doméstico, através do console Atari 2600.
Naquele momento, limitada pela lenta tecnologia dos monitores tradicionais, a indústria já havia inventado, como alternativa, os jogos vetoriais monocromáticos. Os primeiros arcades dessa geração foram Lunar Lander, Asteroids e Battlezone, entre outros.
A evolução da tecnologia era esperada: surgiram em seguida os color vectors, ou arcades vetoriais coloridos. A Sega/Gremlin saiu na frente com o lançamento do jogo Space Fury, em julho de 1981:
Apenas 3 meses depois, a Atari bancou a aposta, lançando o arcade Tempest (do mesmo autor de Missile Command, David Theurer), seu primeiro color vector, que incorporava a famosa tecnologia Quadrascan. Com 3 raios de cores RGB e suas combinações, tais displays possibilitavam a visualização de pelo menos 8 cores bem distintas, incluindo o branco.
Arcades vetoriais logo se transformaram em uma coqueluche. Na época, eram simplesmente a tecnologia mais “cool” existente em toda a indústria dos videogames. Ainda assim, os canhões dos vetores coloridos não eram tão potentes quanto o simples canhão monocromático dos vectors P&B. Por este motivo, nada veio a superar o efeito de rastro deixado na tela por jogos como Asteroids.
O Desafio da Tecnologia Vetorial Colorida
Quem acompanhou o processo de restauração do meu Asteroids, um vector monocromático, sabe que os monitores vetoriais são temperamentais e exigem muito mais manutenção do que um monitor raster, do tipo que conhecemos hoje.
A tecnologia colorida para monitores vetoriais multiplicou essa complexidade. Na época, o mercado ainda não havia percebido, mas com o passar dos anos e o acúmulo de horas jogadas nos arcades, a necessidade absurda de manutenção dessas máquinas foi se tornando evidente.
O principal motivo é que um monitor vetorial possui voltagem superior à de um monitor raster e aquece consideravelmente, promovendo um desgaste excessivo das peças. Para se ter uma ideia, a voltagem DC recebida por um tubo colorido Wells-Gardner, um dos mais comuns da Atari, é de cerca de 19.500V.
Desta forma, com o passar do tempo, os defeitos mais comuns foram surgindo, começando pelos transistores de chassis, que costumavam queimar primeiro, colapsando uma parte da tela. Entre os problemas mais graves estava a queima de diversos componentes em série, o que exigia a reconstrução do monitor, também chamada de “monitor rebuild”.
O Status Cult dos Color Vectors nos Dias de Hoje
Por volta de 1983, a tecnologia vetorial já havia alcançado seu ápice. Alguns dos monitores mais novos tinham capacidade para exibir até 256 intensidades de cor em cada canhão, além de desenhar círculos, o que até então era completamente desconhecido nesse formato de display, caracterizado por linhas retas.
Alguns dos jogos vetoriais coloridos lançados até aquele momento pela Atari, além dos citados anteriormente, são Gravitar, Black Widow, Space Duel e Star Wars, entre outros, quase todos coincidentemente com tema de batalhas espaciais.
Porém, naquela época, a tecnologia raster (com pixels) já havia evoluído consideravelmente, e os jogos coloridos tomavam conta do mercado. O vector começou a se revelar uma tecnologia obsoleta, com alta necessidade de manutenção, e passou a ser deixado de lado. Embora tivesse ocupado um importante espaço enquanto os novos jogos raster ainda não haviam tomado forma, era o momento de dizer adeus.
Hoje, encontramos toda uma geração de saudosistas e colecionadores que redescobriram a tecnologia daquela época. Os apreciadores mais puristas de arcades colocam os vectors em uma categoria própria, sobretudo pelo seu aspecto único, impossível de reproduzir em um monitor convencional.
Além disso, a tecnologia atual permite recuperar os monitores antigos com excelente precisão, substituindo os componentes falhos por outros que suportam maior quantidade de horas em operação e desgastam menos os monitores. Um excelente exemplo é o componente chamado de LV-2K, LV2000 ou low voltage board.
Trata-se de uma pequena placa que substitui cerca de 11 componentes das placas defletoras dos jogos vetoriais da Atari e oferece maior confiabilidade, ao impedir que o tubo receba uma voltagem superior à desejada, o que poderia danificá-lo.
É um exemplo do que tipicamente chamamos de retrofit, termo utilizado para designar a substituição ou o aprimoramento de componentes antigos por tecnologias modernas.
Existem até módulos de transistores externos para serem colocados fora do chassis do monitor, com ventilação própria. Este tipo de upgrade é especialmente recomendado para arcades como Star Wars, conhecidos pela falha dos transistores em decorrência do intenso uso dos vetores coloridos que fazem parte da dinâmica do jogo.
Seja com a restauração das placas originais ou com a realização de upgrades modernos, o fato é que os color vectors definitivamente ocupam o topo da escala cult entre os amantes de arcades. Porém, devido ao trabalho e ao conhecimento necessários para entender todo o processo e consertar os defeitos, o melhor arcade vetorial continua sendo aquele “do amigo”.
Você simplesmente faz uma visita para jogar, em vez de assumir os problemas e se deparar com a missão de consertar uma tecnologia que quase ninguém conhece.
Quanto a mim, é claro, acabei escolhendo o caminho mais trabalhoso. Nos posts seguintes, conto um pouco dessa aventura.
Este post é parte de uma série.
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