Space Invaders #6: Reconstruindo o Monitor e Mudando os Gels
Este é o sexto post da série sobre o processo de restauração do Space Invaders Taito. Na sequência, até agora falei sobre os desafios de adaptar a placa-mãe, reparar o monitor, instalar o kit de Multigame e High Score Save, adaptar a iluminação e restaurar a estética.
Relembrando: no post em que falo sobre o desafio de adaptar a iluminação, ficou claro que ainda não consegui recuperar o mecanismo original de luz negra do arcade, devido às características de maior luminosidade das lâmpadas atuais, o que dificulta a visualização do jogo.
No post sobre a iluminação conto também a respeito do processo de rejuvenescimento dos tubos, que não é conhecido no Brasil e, portanto, não pude aplicar. Porém uma coisa que eu não havia feito ainda é o processo de reconstrução do monitor, também chamado de monitor rebuild.
Este procedimento, bastante comum no mercado americano, consiste na aplicação de kits prontos de reconstrução, com variados tipos de componentes, geralmente capacitores. O reparo exige conhecimento e habilidade com solda, multímetro e polaridade de componentes.
A reconstrução poderia resultar em uma imagem melhor e mais clara? Essa seria uma hipótese e, certamente, um passo obrigatório nesta busca.
Monitor Rebuild 1: Identificando o Monitor
A primeira dificuldade surgiu na identificação do monitor. Percebi claramente uma falta de recursos informativos, seja através de manuais ou da listagem de componentes, especialmente para este modelo de fabricação japonesa. Não achei nenhum kit pronto.
Dessa forma, desmontei novamente todo o conjunto de monitor e tubo e tirei fotos detalhadas das placas. A identificação do tubo foi fácil, é um modelo da Toshiba. Porém, em relação à placa-mãe, restava a dúvida. O único indicativo de modelo estava escrito em japonês.
Após enviar fotos a especialistas e trocar conversas em grupos especializados, o monitor foi identificado como um TOEI GM-20. E, para este monitor, não existia um kit de reparos pronto no mercado.
Recorri a um especialista da área e consegui importar dos Estados Unidos um kit de reparos construído especialmente para este monitor.
Monitor Rebuild 2: Aplicando o Kit de Reparos
O monitor TOEI GM-20, por ser um raster em preto e branco, se revelou bem mais simples de consertar do que monitores vetoriais, que requerem uma série de cuidados e conhecimentos por vezes mais avançados.
A aplicação do kit envolveu basicamente a troca de cerca de 20 capacitores, alguns difíceis de localizar ou presentes em partes de complexo acesso na placa do monitor, exigindo, eventualmente, estabelecer uma ordem de troca (por exemplo, retirar um componente para ter acesso a outro).
Mudando a Estética dos Gels
Aproveitando o trabalho envolvido na desmontagem do monitor, optei por retirar alguns gels do tubo.
Gels é como chamamos os adesivos translúcidos comumente utilizados na década de 70 para proporcionar cores aos jogos em preto e branco. No caso deste Space Invaders, foram aplicadas diferentes linhas de cores para a área dos alienígenas, uma cor específica (roxo ou rosa) para a linha superior do disco voador e verde na parte inferior, dos escudos.
Porém, sempre achei estranha nesta máquina a presença de gels intercalados em algumas linhas dedicadas às naves invasoras, tornando difícil alinhar a imagem do jogo com as cores exatas.
Em pesquisas que fiz, descobri tubos de colecionadores que possuem apenas a parte verde e, eventualmente, a linha superior para o disco voador. Dessa forma, é possível que a disposição das cores neste monitor não obedecesse à disposição original, sendo uma espécie de “upgrade” feito pelo antigo proprietário.
Aproveitei esse momento para retirar as linhas coloridas e fazer um teste de jogabilidade. Optei por manter apenas a linha verde principal, para a área de escudos do game.
Teste Final: Monitor Rebuild e Nova Disposição de Gels
Concluído o trabalho, o monitor estava 100% “rebuilt”, e chegou a hora de testá-lo. Este é um momento sempre bastante tenso, pois há o risco de haver cometido algum engano durante o reparo e o conjunto não funcionar.
Levei um susto ao religar o monitor, pois, após breve funcionamento, ele desligou completamente.
Por coincidência ou não, foi detectado um fusível queimado. É normal que fusíveis antigos eventualmente estourem, porém é preciso um certo cuidado na reposição, utilizando fusíveis fiéis às características dos originais, que geralmente são “slow-blow”, também chamados de “slo-blo” ou fusíveis de retardo.
Estes dispositivos possuem a característica de suportar um pico de energia maior do que sua capacidade por um breve período em que a máquina é ligada. Isso é necessário para que os componentes analógicos atinjam seu estado normal de funcionamento, o que ocorre em frações de segundo.
Trocado o fusível, para alívio geral, o monitor funcionou perfeitamente, completando assim seu terceiro ciclo de reparos.
A disposição geral das cores aproximou o arcade de sua configuração original mais clássica.
Por fim, novos testes de iluminação foram feitos e, apesar de os reparos terem sido ótimos para prolongar a vida útil do equipamento, não foi possível obter ganhos de luminosidade que compensassem a intensidade da lâmpada UV.
O próximo passo lógico seria definir a disposição dos gels na tela após realizar testes de jogabilidade com a placa Multigame e repor a moldura, também chamada de bezel ou cardboard.