Você Viveria Bem em um Mundo Perfeito?
O fim do ano se aproxima e para muitas pessoas é uma época para rever o período, planejar metas e desejar um ano melhor. Melhor? Sim, pois quase sempre queremos algo a mais do que temos. Faz parte do impulso do ser humano e pode ser bom. Entretanto, percebo uma divisão nítida no perfil de pessoas que desejam alçar esse degrau.
O ambicioso deseja a mudança através da evolução, seja ela pessoal, financeira, profissional, espiritual ou qualquer combinação entre elas (ambição desmedida leva à ganância, mas isso fica para outro post). Esse perfil ambicioso, podemos chamar de otimista.
O segundo perfil, que naturalmente vamos chamar de pessimista, representa aquela pessoa que deseja mudar simplesmente porque acha tudo muito ruim. Reclama da vida, das pessoas e não se dá por satisfeita com o mundo em que vive.
Entendo que nem todas as pessoas têm uma vida agradável, embora possa haver uma série de razões que levem a isso, frequentemente por culpa delas mesmas. Entretanto, a perfeição não faz parte do nosso mundo e a calmaria costuma levar à involução, perda de perspectiva e depressão. Seria essa uma característica intrínseca da nossa espécie?
O mundo perfeito visto pela ficção científica
Muitos livros e filmes se dedicaram a retratar um mundo “perfeito”, sempre com sérias consequências para o ser humano. Frequentemente, há um caos latente querendo se instaurar. O exemplo mais célebre creio ser Matrix, em que um mundo controlado nos mínimos detalhes pelas máquinas sofre um abalo imprevisível por conta do predestinado Neo. Em determinado momento, Neo conversa com o arquiteto do mundo artificial e o indaga por qual motivo havia guerra e problemas em um mundo controlado por máquinas. O arquiteto revela que as máquinas haviam criado um mundo perfeito e não deu certo, o ser humano não conseguia viver em um lugar assim. Portanto, o mundo necessitava de defeitos, porém um desvio impossível de ser eliminado na equação gerava um fator incontrolável de tempos em tempos, que por sua vez levou ao surgimento do escolhido – “The One” – no caso, Neo.
Blade Runner, marco da ficção científica, já mostrava uma tentativa de perfeição na forma de androides que, por sua vez, evoluíam para entidades em conflito, capazes de espalhar o caos. Inteligência Artificial (A.I.), mais recentemente, introduziu fator similar no pequeno David. Eu, Robô (I, Robot), baseado nos livros de Isaac Asimov, desenvolve ainda melhor esse conceito. Até mesmo Minority Report demonstra que perfeição não existe, como Philip K. Dick idealizou novamente (é autor também de Blade Runner).
Apesar da riqueza dos filmes citados, os livros que considero mais clássicos para tratar desse tema são dois: Brave New World (Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley), que trata do tema do condicionamento do ser humano através de métodos psicológicos e drogas – tema aliás que foi repetido de forma brilhante no filme Equilibrium, estrelado por Christian Bale – e The City and The Stars (A Cidade e as Estrelas, do brilhante mestre Arthur C. Clarke), que conta a história de Diaspar, uma cidade perfeita controlada por máquinas. São livros que nos fazem pensar e refletir sobre a humanidade.
Como devemos enxergar o mundo
As pessoas não são perfeitas – e jamais serão. Vivemos em um mundo com boas doses de injustiça em escala global – e nada parece acenar para uma mudança. Até mesmo viver um dia perfeito parece ser quase impossível. De fato, a felicidade parece sempre vir em pequenas doses.
Faz sentido a ideia de que o ser humano é estimulado pela adversidade. Os percalços da vida costumam tornar as pessoas mais fortes e capacitadas. Alguns desafios podem ser muito benéficos, como demonstrado em meu post Magic Web Design: 15 Anos Quase Por Acaso.
Conheci inúmeros casos de pessoas que, desmotivadas por uma vida plácida, fácil ou sem desafios, sucumbiram para sua tristeza interior e se tornaram fracassadas, deprimidas, infelizes ou simplesmente desesperadas, para não dizer suicidas. Há bons exemplos disso entre os super dotados, pessoas ricas por herança ou muito famosas. O ser humano parece simplesmente não estar preparado para uma vida sem obstáculos.
Pense nisso e não deseje chegar logo aos seus objetivos. Afinal de contas, o que mais existirá a perseguir depois que você alcançar tudo? A perfeição é relativa, se é que existe. Saber conviver com os defeitos inerentes ao ser humano e à nossa civilização é muito mais nobre.
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