Microespecialização é Disfarce para Incompetência?

Microespecialização é uma palavra pouquíssimo utilizada, creio que boa parte das pessoas nunca ouviu falar dela, a julgar pelos resultados que apresenta no Google. Afinal, qualquer palavra que exista e apresente apenas algumas dezenas de resultados no Deus Google, pode ser considerada relativamente desconhecida.

A palavra se refere a uma propensão homogênea que ocorre em todas as áreas de conhecimento da humanidade: há uma tendência muito grande de aprofundar o conhecimento em especialidades com restrito campo de atuação. Por isso, a união do prefixo “micro” (muito pequeno ou microscópico), conjugado ao termo “especialização”.

A primeira vez que me deparei com esse termo foi há anos atrás, ao ler o livro The Peter Principle, apelativamente traduzido no Brasil como “Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você“, com brilhantes ilustrações do Ziraldo. Esse livro, a grande obra-prima de Laurence J. Peter, educador e “hierarquiologista” já falecido, foi lançado em 1969 e fez enorme sucesso no mundo todo. Trata da tendência das pessoas em subirem até atingirem seu nível de incompetência dentro das organizações (mais sobre isso no futuro).

Peter relatava, perplexo, já em 1969, a tendência de médicos em se especializarem em pequenas partes do corpo humano. Citava o caso de um médico especializado em uma única doença. Afinal, isso é bom ou é ruim?

Para uma pessoa que procura um profissional de saúde em busca de um diagnóstico, sem dúvida é frustrante ser direcionada de um lado para outro em busca de “especialistas” que possam resolver seu problema. Antigamente não era assim, o famoso “médico da família”, um clínico geral, era capaz de resolver boa parte das doenças. Havia mais tempo para uma boa conversa, uma das melhores armas para o diagnóstico, frequentemente ignorada em nosso falido sistema de saúde. Fazer exames é mais prático para o médico, mascara eventuais incompetências no diagnóstico e também movimenta mais dinheiro no sistema.

Por outro lado, um profissional especializado em determinada região do corpo ou em determinada(s) doença(s) pode ter um melhor índice de certeza no diagnóstico e eficiência no tratamento, justamente por tratar de casos similares rotineiramente. Em grandes centros, o acesso a esses profissionais pode não ser um problema, mas e no resto do mundo?

A microespecialização não é privilégio do corpo médico. Dentistas, engenheiros, advogados, corretores e prestadores de serviço de forma geral trilham o mesmo caminho. Com a humanidade dobrando o conhecimento a cada dois anos (afirmação genérica que aceitamos como verdade há mais de uma década), talvez seja natural que, dada a impossibilidade de absorver a vasta quantidade de informações, o homem necessite focar seu aprendizado.

O problema é a preguiça e o comodismo que toma conta das pessoas. Afinal, há de se considerar que a visão global ajuda no conhecimento específico, assim como a cultura geral é importante para qualquer pessoa. Conhecer de forma ampla seu ramo de atuação representa uma vantagem para qualquer profissional, sem contar que evita situações constrangedoras de “não poder opinar” sobre determinado assunto.

Peter sentia falta daquele “bom e velho conhecimento geral“, já em 1969. Fosse vivo, Peter talvez estivesse muito decepcionado com o mundo atual.

Mais: achei um texto muito interessante do headhunter Marcio Bamberg sobre o assunto.

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