Arcades: Conheças as Diferenças entre os Clássicos dos Fliperamas

Hoje em dia, colecionar vídeo games, ou, do termo original, videogames, se tornou mainstream. Já se foram os velhos tempos em que o colecionador era considerado um nerd recluso. Eles ainda existem, mas alguns fenômenos como a popularização dos sites de leilão,  o culto ao retrô que observamos em nossa sociedade e o amadurecimento de uma geração que, quando conviveu com os games, era composta basicamente por adolescentes sem grana, levou a uma busca desenfreada por videogames clássicos.

Arcades clássicos: nada supera
Arcades clássicos: nada supera

Como resultado, observamos um amplo número de pessoas que, em maior ou menor grau, se dedicam a colecionar games antigos, a um ponto em que cartuchos de Nintendo ou MSX, por diferentes motivos, se tornaram itens muito caros, chegando a valer, facilmente, centenas ou milhares de dólares.

No mundo do Atari, videogame que eu coleciono, isso até existe, mas não chegou ao ponto dramático citado anteriormente, exceto por alguns itens realmente raros.

Atari - um videogame clássico, com River Raid na tela

Porém, o que todos os colecionadores eventualmente esquecem é que, ao colecionar consoles, estamos, na verdade, emulando os jogos originais, aqueles que realmente fizeram nascer uma indústria, que foram os arcades.

The Ultimate Collection

Os arcades representam uma experiência única e definitiva. Como diria Peter Hirschberg, autor do livro “Luna City Arcade” (baixe de graça) e outrora proprietário de uma das maiores coleções privadas de arcades do mundo (a qual eu tive o prazer de conhecer):

As verdadeiras máquinas de arcade possuem uma presença física visceral e palpável que você simplesmente não consegue obter de nenhum console doméstico ou emulador. Elas têm um pedigree que vem do fato de terem estado em um verdadeiro arcade, ou mesmo vários. Elas são o artigo genuíno…. não era apenas um jogo, mas uma experiência de corpo inteiro.

Ou seja, colecionar arcades representa a fronteira final, você não está emulando aqueles games em um console doméstico, mas sim tendo acesso a uma experiência muito singular e exclusiva. Para muitos, é reviver uma das melhores épocas – os anos 80.

A sensação única de jogar em um arcade de verdade

Claro que ter uma coleção de arcades em um país como o Brasil é quase impossível. Além dos problemas decorrentes da dificílima importação de máquinas como estas, basicamente não há assistência técnica de espécie alguma por aqui. Situação muito diferente dos Estados Unidos, em que o comércio de arcades funciona de uma forma muito regular e ativa, e conta com inúmeras pessoas e empresas que fazem de tudo, desde reparar uma placa mãe até restaurar as ilustrações originais dos gabinetes.

Além disso, há uma necessidade óbvia de dispor de muito espaço e, para ligar várias máquinas, construir uma rede elétrica reforçada para suportar estas verdadeiras devoradoras de energia.

Diferença Básica: Rasters e Vectors

Quando falamos de videogames de forma geral, o que a maioria das pessoas conhece é a técnica de raster: imagens em bitmap ou pixels que são desenhados através de uma varredura de tela expressa por uma frequência em hertz.

Porém, alguns arcades antigos, que para muitos representam os melhores de uma época, são justamente aqueles com gráficos vetoriais: raios traçam vetores na tela, que por sua vez definem objetos. Geralmente, o que se enxerga são objetos sem preenchimento, apenas com o outline, levando a uma construção geométrica que tem toda a cara de computadores antigos.

Os vectors possuem um apelo especial a toda uma geração de gamers. Apesar de ser uma tecnologia ultrapassada, fora de fabricação, até hoje não há nada parecido. As linhas traçadas na forma de vetores, ao contrário das linhas de pixels, são completamente retas, mesmo na diagonal. As formas geométricas precisas causam certa estranheza aos olhos e possibilitam obter uma velocidade muito grande para movimentos (em comparação com a tecnologia raster da época).  Outra vantagem é que, no modo vector, é possível dar mais destaque a alguns pontos, retraçando-os diversas vezes.

Um clássico exemplo de vector com diferença de brilho está no game Asteroids: os tiros disparados são mais brilhantes que os objetos ao redor. Esse efeito é de difícil reprodução em vídeos, por este motivo, a única forma de percebê-lo em sua intensidade é jogando em um arcade original (veja este post a respeito).

Inicialmente, os vetoriais eram monocromáticos: traços em branco contra uma tela escura, ou ainda, com o uso de overlays (tintas transparentes), eram aplicadas cores a determinadas partes da tela.

Battlezone: exemplo de monochrome vector com overlay para simular cores
Battlezone: um clássico exemplo de monochrome vector com overlay

Com o passar do tempo, surgiu a tecnologia vetorial colorida, possibilitando a a aplicação em uma série de jogos através de conjuntos de canhões RGB. Embora mais modernos, os color vectors não possuem o mesmo brilho do monocromáticos, ficando a dúvida sobre qual deles é o mais interessante.

Star Wars: arcade vetorial colorido de verdade
Star Wars: um verdadeiro color vector permite que as cores ocupem qualquer espaço da tela

Tipos de Gabinete: Upright, Cocktail, Cabaret e Cockpit

No Brasil dos anos 80, os arcades com os quais tivemos contato eram basicamente do modelo mais comum: Upright ou Standard.

Gabinete do arcade Asteroids Deluxe em versão upright
Upright: o modelo mais conhecido de gabinete

Porém, no cenário dos arcades americanos, a figura do Cocktail ou Table era bem conhecida. Estes arcades eram feitos tipicamente para permitir que as pessoas jogassem sentadas, além de depositar bebidas sobre a tela. 

Gabinete do arcade Asteroids em versão Cocktail
Asteroids Cocktail: modelo pouco conhecido no Brasil

Estes gabinetes proporcionavam uma experiência mais comunitária, com grupos de pessoas se acomodando ao redor das máquinas. Além disso, um típico layout de arcade contava com máquinas Cocktail oferecendo um espaço limpo para permitir enxergar os gabinetes Upright contra as paredes.

Um típico arcade da década de 80, com gabinetes dos tipos cocktail e upright
Um arcade da década de 80 – típica configuração (Luna City Arcade – The Book)

As máquinas do tipo Cabaret ou Mini eram versões compactas das Upright, destinadas a ocupar menor espaço.

E, os verdadeiros astros de qualquer arcade, eram os gabinetes do tipo Cockpit ou Environmental: com objetivo de proporcionar uma verdadeira experiência sensorial, o jogador era convidado a entrar dentro de um gabinete com luzes, alto-falantes, subwoofers, bancos e controles posicionados de maneira cuidadosamente planejada.

Entre os clássicos e preferidos Cockpit/Environmental, estão máquinas como Star Wars (color vector) e Tron (raster).

Arcade Discs of Tron - Environmental
Discs of Tron – Environmental.
Abaixo Star Wars – Cockpit.
arcadeblogger.com
Arcade Star Wards - Cockpit

Recomendo a leitura adicional do excelente artigo Coin-Op Cubicles: Types of Arcade Cabinets, para saber mais a respeito.

Peso Descomunal

Não é preciso falar que uma máquina de arcade é bastante pesada, mas algumas são exageradamente reforçadas: enquanto uma máquina Cocktail pesa próximo a 85 kg, uma Cabaret já chega próximo de 100 kg.

Um gabinete Upright, por sua vez, começa a pesar de verdade, na faixa de 150 kg, bem mais que uma geladeira duplex, por exemplo.

Já uma máquina Cockpit pode pesar até 3x mais do que uma Upright, ou próximo a 500 kg. Um gabinete com este peso exige facilmente 4 pessoas fortes para transportá-lo.

Por todos estes motivos, colecionar arcades pode ser algo fabuloso e desafiador. Porém, é mais fácil mudar de país do que trazer estas fantásticas máquinas para cá. Ficamos na admiração mesmo!

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