Princípios da Incompetência – Parte 1

Parte 1: Peter e a Ciência da Hierarquiologia

Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você - AntonioBorba.comLaurence J. Peter foi um gênio. Sua obra-prima, o livro The Peter Principle, de 1969, foi apelativamente traduzida no Brasil como “Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você“, com brilhantes ilustrações do Ziraldo.

Peter foi um educador, auto-intitulado “hierarquiologista” e dedicado a desvendar os princípios por trás da produtividade das organizações.

Sua teoria – O Princípio de Peter – proveniente de muitas observações, diz o seguinte:

“In a Hierarchy Every Employee Tends to Rise to His Level of Incompetence”

Que significa: “Em uma hierarquia, todo empregado tende a subir até seu nível de incompetência“.

A chocante verdade de Peter

O que Peter fala é a mais pura verdade, nua e crua. Voraz arquivista e colecionador de casos, Peter sempre cita suas observações reais. Raymond Hull, o jornalista que auxiliou Peter  a escrever o livro, cita uma de suas também brutais observações: “Eu vi urbanistas supervisionarem o desenvolvimento de uma cidade nas várzeas de um grande rio, as quais certamente serão periodicamente inundadas“.

O mais interessante é que Peter não se limita a observar a incompetência, mas aponta claramente os motivos que levam a ela. Resumindo seu brilhante trabalho, a explicação é simples: a cultura organizacional moderna, através da meritocracia, tende a promover pessoas produtivas até que elas alcancem uma posição na qual são incompetentes. Trata-se do ciclo natural das instituições hierárquicas, que vão de empresas privadas a governos, passando pelas forças militares.

Um exemplo vale mais do que palavras

Vamos tomar como exemplo um operário de uma indústria qualquer. Ele realiza tarefas braçais e os índices de avaliação da sua capacidade se baseiam diretamente na sua produtividade, pontualidade e respeito à hierarquia. Esse operário é extremamente produtivo, cumpre seus horários pontualmente e, após alguns anos de atividade, é promovido ao cargo de chefia.

Como chefe, sua função é supervisionar seus encarregados e fazer com que cumpram de forma eficaz suas jornadas de trabalho. Agora, ele não mais produz, mas supervisiona uma equipe e se reporta diretamente à gerência. Os índices de avaliação de sua competência não se baseiam mais em sua produtividade, mas sim na produtividade de seus encarregados. Agora, saber fazer não conta mais. O importante é manter os colaboradores felizes e produtivos. Como se pode ver, uma mudança drástica de tarefas, que poderá levar nosso herói organizacional a se mostrar incompetente, caso não saiba como lidar com essa situação.

Supondo que passe incólume por seu novo desafio e se mostre um chefe competente, nosso brilhante personagem poderá, ao longo do tempo, ser promovido a gerente. Nessa função, ele não vai mais supervisionar uma equipe de operários, mas sim controlar todos os chefes, consolidar números, produzir relatórios e prestar contas para a diretoria. Uma função muito mais política do que operacional. Cumprir horários e saber produzir quase não importa. Agora, suas melhores qualidades serão aquelas voltadas à resolução de conflitos, além de flexibilidade para lidar com o ego dos diretores e dar as notícias da forma mais adequada.

Como se pode ver, ao longo da trajetória das pessoas dentro das organizações, as exigências de aptidões mudam bruscamente. E isso leva as pessoas, facilmente, a atingirem um nível de incompetência no qual não possuem as habilidades necessárias para a função, gerando um estado de constante stress e infelicidade, e outorgando um peso à organização. Afinal, quem gira as engrenagens são as pessoas que ainda não atingiram seu nível de incompetência. E é precisamente por esse motivo que as organizações mais antigas são geralmente as mais burocráticas e ineficientes. Elas possuem mais pessoas que atingiram seu nível de incompetência!

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9 Respostas para Princípios da Incompetência – Parte 1

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  4. Fabíola disse:

    Parabéns Antônio, perfeita análise.

  5. Sim, eu entendi a mensagem e busquei uma solução para as aptidões que não temos.

    Por exemplo, existem pessoas que tem aptidões natas para o desenho, porém você pode aprender a desenhar relativamente bem através da prática constante e aplicação de técnicas, mas jamais você desenhará igual aquela cara “ninja”. Risos…

  6. Nunca tinha parado para fazer este tipo de análise.

    Jamais devemos parar de aprender independente da idade ou cargo, o tempo todo devemos recomeçar, não temos uma profissão definida e sim problemas a serem resolvidos.

    • Olá Rodrigo, obrigado pela contribuição. Apenas repare que o artigo não fala sobre apreender, fala de aptidões. E algumas aptidões não podem ser aprendidas, elas são da pessoa. Abraços.

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